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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Apologética Agnóstica #5: Como "rotular" um não-teísta

Depois desse longo jejum da seção, finalmente voltei a escrever nela. Esse post é dedicado a todas as pessoas que me fizeram a seguinte pergunta quando apresentei a minha cosmovisão: "O que é agnosticismo?"

Tradicionalmente, pela parca organização e tendência a independência do pensamento, nós "não-teístas" usamos de rótulos (muitas vezes não-plenamente definidos) para se definirem de maneira simplificada (ainda existem reuniões para unificar o pensamento secularista, como por exemplo a Convenção dos Ateus de Dublin, ocorrida em junho desse ano. Usarei neste artigo as definições aplicadas recentemente no artigo de Shirley Galdino no The Flying Teapot Project, versão em inglês do conhecido blog Bule Voador.

ateu
+ Significado geral é sempre entendido
- Significado preciso é muitas vezes incompreendido (≠ certeza de que deuses não existem)
- Não se comunica se a crença na ausência ou ausência de crença
- Não diz nada sobre a crença no sobrenatural, em geral,
- Não diz nada sobre se a pessoa é religiosa ou espiritual
agnóstico
+ Significado geral é sempre entendido
- Significado preciso é muitas vezes incompreendido (≠ possibilidade de 50/50 que os deuses existem - devido à falta de evidências empíricas)
- Não diz nada sobre a crença no sobrenatural, em geral,
- Não diz nada sobre se a pessoa é religiosa ou espiritual
naturalista
+ Comunica descrença em tudo sobrenatural, sem ênfase em deuses
- Significado geral é muitas vezes incompreendido (≠ de nudismo, ≠ amante da natureza)
- Não se comunica se a crença na ausência ou ausência de crença
- Não diz nada sobre se a pessoa é religiosa ou espiritual
humanista
+ Princípios positivos são mais do que a rejeição do sobrenaturalismo
- Princípios positivos são irremarcáveis na sociedade ocidental moderna
- O significado é muitas vezes incompreendido (≠ adoração à humanidade, ≠ especista)
- Muitas vezes parece ser uma ideologia, em vez de uma simples descrição
- Não diz nada sobre se a pessoa é religiosa ou espiritual
livre-pensador
+ Comunica uma abordagem para reivindicações ao invés de uma crença particular
- Usado quase exclusivamente por ateus, a distinção tão acima está perdida (era mais comum no século XX; por exemplo, na República de Weimar existia a Associação Alemã de Livres-Pensadores, e antes que vocês perguntem, sim, o Hitler mandou fechar, juntamente com os jornais e emissoras de rádio não subjugadas ao governo - por que será?)
- Ou seja, não é geralmente entendida, exigindo explicação
- Não diz nada sobre se a pessoa é religiosa ou espiritual
secular
+ Significado é geralmente entendido
+ Não diz nada sobre a crença ou descrença em qualquer coisa
+ Diz que não é nem uma religião nem espiritual
- Forma substantiva é atualmente um tanto inábil
P.S.: Esse termo é comumente usado pelos teístas para se referir a qualquer tipo de música com o objetivo não-teísta.

domingo, 21 de agosto de 2011

Apologética Agnóstica #4: Marcha pelo Estado Laico - Porque tem que ter?



Não sei se os prezados leitores sabem, mas hoje, 21 de Agosto, realiza-se em São Paulo e algumas outras capitais brasileiras a Marcha pelo Estado Laico, evento destinado a demonstrar à sociedade brasileira a insatisfação vários grupos sociais e mesmo cidadãos inteirados da situação atual (sim, teístas também são plenamente livres para participar) no que tange a um dos preceitos fundamentais do Estado democrático brasileiro: a Laicidade.

Um Estado secular ou estado laico é um país que é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Um estado secular trata todos seus cidadãos igualmente independentes de sua escolha religiosa e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião. O contrário de um estado secular, ou seja, um estado onde há uma única religião oficial, é denominado estado teocrático ou teocracia (como é o caso do Vaticano e do Irã). Em um Estado Laico, as políticas públicas devem ser orientadas pela ciência, não pela crença. Entretanto, um Estado Secular não implica a eliminação da religião. Pelo contrário, o Estado Laico deve garantir a liberdade de todos, religiosos ou não. (Fonte: Wikipedia, com adaptações)

Vejamos alguns motivos que estimularam a criação da marcha:

No mais venho convidar todos que são favoráveis à Marcha a comparecerem (incluindo teístas, que caso vejam alguma cena de intolerância religiosa - livros sagrados como Bíblias e Alcorões queimados, entre outros atos - já que isso configura CRIME pela lei 7716/89 Art. 20 [agradeço a André Baliera pela informação]), verifiquem no Blog da Marcha se haverá na sua cidade (não vai ter em Aracaju, interessados manifestem-se nos comentários, pretendo daqui a um ou dois anos fazer algo, sim, é perfeitamente possível, mas falta apoio...) e no mais, eu desejo laicidade para todos! É o que esse país precisa!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Apologética Agnóstica #3: ATEA desiste de pelejar com empresas de ônibus e lança cartazes polêmicos em outdoors de Porto Alegre

Um dos preceitos que para nós, "não-teístas" defendemos com veemência, é a absoluta laicidade do Estado brasileiro. Infelizmente, para nós, vide pesquisas, os ateus (e infelizmente os agnósticos também, pessoas menos informadas sequer sabem diferenciar uma coisa da outra ¬¬) são a classe mais detestada do país. Nas nossas paragens, ao contrário de outros países desenvolvidos, como a Inglaterra, a organização de grupos (como eu poderia dizer) "pró não-teístas" (provavelmente isso é ortograficamente incorreto, mas não consegui achar um termo certo, azar) é inócua. Aqui no Brasil, há mais de dois anos, a partir de uma sentença proferida em rede nacional por um jornalista sensacionalista, preconceituoso e desprovido de ética jornalística (que mudou de emissora, mas continua dizendo abobrinha), a ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, que não necessariamente me representa, fique aqui bem claro) resolveu replicar no Brasil a famosa campanha do ônibus, que atingiu grande sucesso em países como Inglaterra e EUA.


O referido ônibus inglês, com a frase "Provavelmente Deus não existe - Agora pare de se preocupar e apoveite a sua vida"

A campanha consiste em peças publicitárias lançadas em ônibus com o intuito de "reduzir a intransigência com os ateus" (leia-se: Proselitizar o ateísmo, lembrem-se de que quem está por trás da campanha do ônibus da Inglaterra é a British Humanist Association, cujo líder é o "filósofo" e sociobiólogo Richard Dawkins, considerado o "guru" do neo-ateísmo).
Desde 2008, a ATEA, tenta lançar campanha semelhante em algumas capitais brasileiras, mas acabaram sendo vetados pelas associações de transportes. Só agora, na começo do mês de julho, começaram a ser exibidos os primeiros outdoors da campanha em Porto Alegre (que a meu ver, foi um atraso, a ATEA provavelmente achou que teria o mesmo sucesso dos ingleses, cuja religião principal do país está em visível decadência e tem os ativistas ateístas mais famosos do mundo, como o já citado Dawkins e Christopher Hitchens, além de ter contato forte com outros ateus americanos como Sam Harris e Daniel Dennett).


Para piorar, a campanha nacional padece de problema semelhante à campanha da Inglaterra: não há exaltação à laicidade do Estado ou à tolerância entre credos, apenas ataques à religião cristã próprios dos neo-ateístas (tá vendo o que eu falei? Apesar de ter "agnóstico" na sigla eles não me represantam? Tsc, tsc, tsc...). Vejamos os cartazes:


1) Apesar de concordar com a sentença do cartaz "Religião não define caráter", o problema na ilustração é a "polarização forçada de valores". Por um lado, temos Adolf Hitler representando os teístas (uma aplicação clássica da Lei de Godwin) e Charles Chaplin (que era ateu por ser comunista, ao contrário dos ateus "dawkinistas" e a maioria dos ateus comtemporâneos, o fato dele ter sido um cineasta de sucesso em nada torna-o melhor na matéria de moral) como defensor dos ateus. Aliás, se ser ateu é ser "mais bom caráter" porque Stálin (comtemporâneo de Chaplin) é reconhecido hoje como "genocida" e "autor de crimes contra a humanidade", se ideologicamente, ele era ateu que nem o Chaplin?
2) Este segundo trata-se de uma crítica ao fundamentalismo extremista dos teístas, além de tentar minar a ética teísta. Além de partir do pressuposto de que "em nome de Deus e da moral da sua religião é possível cometer atrocidades contra os 'inimigos' " (que na prática, quase todo teísta que você perguntar isso vai negar veementemente), ele faz na ilustração um "apelo à emoção" com a imagem do avião antes de se chocar com a 2ª torre. Afinal, dizer que os fanáticos são os caras da "outra religião herege do outro lado do mundo" é muito fácil, não é mesmo?
3) A velha crítica de que a fé teísta existe para suprimir a razão (o velho argumento de fanáticos evolucionistas, como o Dawkins).... Embora, eu, como agnóstico, considero o fideísmo como insuficiente para demonstrar a verdade, vejo que, em dados momentos da história, homens teístas fizeram avanços importantes para o desnvolvimento do conhecimento científico (não que eu seja favorável ao Criacionismo, bem entendido).
4) Em primeiro lugar, há uma ofensa ao Cristianismo e ao Hinduísmo (Jesus Cristo e Krishna são reduzidos a mitos, juntamente com Hórus, que é "um deus morto"; ambos os cultos são reconhecidos como "mitos regionais", sendo que desde Paulo de Tarso, o cristianismo é internacionalizado; insinua-se a teoria mostrada no filme Zeigeist que Jesus Cristo seja um mito de uma divindade internacional, cuja história foi construída a partir de outras deidades veneradas na Eurásia). Em segundo lugar, a frase do cartaz é uma comum falácia ateísta usada para "jogar as religiões umas com as outras". Se a diferença do ateu pro teísta é que "o ateu não acredita em um deus a menos", isso ainda assim não justifica a tolerância entre teístas e ateus, ainda mais depois de tamanha desconsideração à religião alheia proporcionada pela ilustração do cartaz.

domingo, 24 de julho de 2011

Apologética Agnóstica #2: A nova face do extremismo

Ontem a população norueguesa (e de toda a Europa) ficou chocada com os dois atentados ocorridos no referido país. Por volta das 10h20 da manhã (horário de Brasília) uma bomba foi detonada no centro de Oslo próximo aos prédios principais do Governo, atingindo o escritório do primeiro-ministro e deixando sete mortos e quinze feridos.
Menos de uma hora depois, Anders Behring Breivik (foto acima) disfarçou-se de policial e invadiu um acampamento de jovens do Partido Trabalhista (do governo) em Utoeya (ilha próxima a Oslo), assassinando cerca de 92 pessoas dentre as 600 participantes do evento, num tiroteio que durou cerca de 1 hora e meia.
Como é de praxe nesses casos, o governo fechou imediatamente as redes sociais do "agressor" pouco depois dele ter sido capturado, bem como outras páginas postadas por ele. Em uma delas, ele posta um manifesto de mais de 1.500 páginas chamando à violência contra muçulmanos e comunistas. No histórico de navegação do computador dele, foi descoberto que ele era um assíduo frequentador de blogs de direita com vários comentários políticos publicados, principalmente no blog document.no (inacessível hoje) de Hans Rustad (discurso pró-Israel, anti-islamista e anti-imigração, idéias em linha com o Stop Islamisation of Europe).
Breivik, que qualificou seu ato como "cruel, mas necessário", está sendo qualificado pelas agências de notícias como "ultradireitista", "islamofóbico" e "fundamentalista cristão", sendo que este último está causando polêmica entre cristãos mais mimizentos exaltados, alegando que o verdadeiro "fundamentalismo cristão" tem na sua essência o amor, a generosidade, a tolerância e o respeito pelo próximo. Ser verdadeiramente "fundamentalista cristão" é ser tudo menos violento, tudo menos intolerante para com as outras expressões de fé. O "radicalismo" cristão, islâmico ou outro qualquer, esse sim, é capaz das maiores atrocidades, pois não tolera, muito menos aceita a fé e/ou a presença do outro". (veja comentários aqui)
Cristãos por toda a Internet estão revoltados com essa designação supostamente perniniciosa contra eles, pois supostamente "um cristão não iria se voltar com violência para com outras pessoas, mesmo elas sendo não-cristãs". Será que não? Além de não ser a primeira vez que coisas desse tipo acontecem, o cristianismo, se não estimula a violência, é inolente em combatê-la. Lembram-se do post anterior do Apologética Agnóstica que coloquei aqui? Não é estranho que estatisticamente, os grupos mais "detestados" pelos cristãos de uma maneira generalizada são justamente os que Mister Breivik insiste em "combater"? (Comunistas, que são "ateus segundo o materialismo de Marx" e Muçulmanos, que estão se expandindo em toda a Europa para suprir a carência de proletariado barato causada pelo decréscimo populacional no continente Prestar atenção na aula de Geografia é tão bom, né?.
É perfeitamente possível que haja uma ligação entre uma "formação cristã" e um fanatismo exacerbado (Não que seja o único motivo, outros fatores externos influenciam, como o racismo, o desemprego causado pelos imigrantes, etc.) . Mesmo que o eclesiástico responsável por tratar de pessoas como Mister Breivik seja contra a violência aos seus "opositores", o fato de seu estilo teológico não admitir os "diferentes" vai chegar aos ouvidos de pessoas que tenham interesses próprios contra esses grupos criticados como o "direito divino" para atacá-las! Esqueça, Lei de Godwin, não vou fazer você aparecer aqui... Infelizmente, o mesmo eclesiástico que deveria instilar nos ideais da sociedade respeito, tolerância e mesmo amor pelos diferentes acaba por apenas instigar mais ódio, mais intolerância e mais preconceito! Triste, não? Tsc, tsc, tsc....

Fontes: Uol Notícias, BBC, Blog do Luis Nassif, Publico

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Apologética Agnóstica #1: Secularismo - O Medo dos Pastores

Prezados leitores, esta seção do blog se dedica a demonstrar minhas opiniões como agnóstico em relação aos acontecimentos do mundo que me/nos cerca. Peço mais uma vez respeito a minha opinião, em nome dos outros leitores. Nem eu nem ninguém quer ver flame war nos comentários... (Ariel de Oliveira)


O Centro de Pesquisas Pew, instituição estadunidense sem fins lucrativos que estuda costumes e tendências da sociedade aproveitou o 3º Congresso Internacional de Lausanne sobre a Evangelização Mundial, ocorrido na África do Sul, entre 16 a 25 de outubro de 2010, para lançar aos líderes protestantes um questionário.

O relatório ficou pronto no mês passado. As respostas de 2.196 líderes, vindos de 166 países, ajudam a traçar um perfil a nível global da mentalidade dos líderes protestantes contemporâneos, e por sua vez os seus fiéis, cujo número varia de 246 milhões (de acordo com a Pew) a 600 milhões de pessoas (segundo a Aliança Evangélica Mundial). No Brasil, estima-se que a população evangélica seja de 50 milhões de pessoas.


Um dos dados preocupantes levantados pela pesquisa é a má impressão das autoridades protestantes em relação ao Secularismo (doutrina político-filosófica que foca em valores morais e intelectuais desagregados a normas impostas sugeridas por religiosos, amplamente praticado por "não-teístas" como agnósticos e ateus, incluindo este agnóstico que vos escreve).
Tal medo demonstra-se (ao menos em parte) como preconceituoso e tendencioso. Em primeiro lugar, salvo no caso dos neo-ateus (cujo comportamento é criticado por muitos, inclusive este que vos fala, talvez fale sobre isto em outro post), não há proselitismo da filosofia secular. Entre nossos "fundamentos", o que existe é a insistência pela plena laicidade do Estado nas esferas legais e educacionais (veja mais detalhes aqui). Ironicamente, esse mesmo direito à neutralidade religiosa, no caso do Brasil, foi crucial para o desenvolvimento do protestantismo, uma vez que, só a partir de 1889, com as liberdades de culto asseguradas pela República Secularista, puderam vir para cá missionários estrangeiros que fundaram as primeiras denominações de maior porte (como a Assembléia de Deus) Duvido que falem isso no livro sobre o Centenário.


Outra estatística preocupante: para os líderes protestantes, os ateus são a "religião" mais "detestada" dentre eles (E o que é pior, ateus mais exaltados costumam ser hostis com agnósticos também #ninguémmeama T_T).
Esses dados são perigosos, pois, embora pareçam que eles apenas "odeiam o pecado mas não o pecador" (a falácia mais velha do mundo no que tange a proselitizar adversários teóricos ou pessoas de comportamento moral questionável aos padrões deles), quando essa tendência chega aos ouvidos dos fiéis mais exaltados, o "partidarismo cristão" existente entre esses grupos (característica muito comum entre grupos autocráticos, como o nazi-fascismo) gera uma cultura do "nós contra eles", e não tem como sair nada positivo dessa disputa. (Sugestão de filme que fala desse assunto: Senhor, Livrai-nos dos seus Seguidores).

Se você estiver interessado em ver o infográfico completo, cheque a fonte no Pavablog.