O artigo o qual me refiro é este aqui, datado de ontem. Nele, Dom Henrique Soares da Costa, 48, bispo auxiliar de Aracaju/SE (onde nasci e vivi a vida inteira, para meu maior espanto), faz duras críticas à Marcha pelo Estado Laico ocorrida paralelamente à Jornada Mundial da Juventude em Madri este ano. Procurarei fazer os devidos comentários frase a frase. Vamos começar...
"Na Espanha, cerca de três mil pessoas protestaram por nada... Reclamaram de modo violento, intolerante e irracional do dinheiro público presumivelmente gasto pelo governo espanhol na Jornada Mundial da Juventude. Não houve emprego de dinheiro público; tudo foi pago com o dinheiro das inscrições e doações de empresas."
Ora, três mil cidadãos da União Européia (afinal, graças as facilidades aduaneiras, nem todos os cidadãos ali são espanhóis, mas europeus como um todo) vão às ruas protestar numa "Marcha pelo Estado Laico", que é um evento relativamente novo (a Marcha ocorrida este ano em São Paulo juntou cerca de 300 pessoas, apenas para tirar um comparativo), o que teria provocado tanta gente a comparecer? A inolência papal em tentar solucionar os contínuos casos de pedofilia perpetrados por padres, que continuam a solapar a moral da ICAR? Ou quem sabe a impassibilidade da referida denominação religiosa em reconhecer (o que é complicado e polêmico, por motivos teológicos, mas pelo menos "não marginalizar") a população homossexual, que cresce em número de membros assumidos e militantes de seus direitos (até mesmo em Aracaju, que tem marcha LGBT há muitos anos)? Ou seria o motivo supostamente refutado: a origem do dinheiro usado para hospedar 2 milhões de pessoas, sendo que não houve absolutamente nenhuma transparência (fato que foi criticado até por membros da ICAR em Madri) e fica reservado a D. Henrique e seus asseclas o ônus da prova) acerca da origem do dinheiro.?
"Injuriaram e caluniaram o Santo Padre: chamaram-no de fascista e até de pedófilo... Gritaram, ameaçaram, fizeram caretas contra os jovens que se dirigiam ao encontro com Bento XVI. Interessantes, esses tolerantes e democratas, que gritam por respeito e liberdade, desde que sejam para si os que pensam como eles... Os meios de comunicação deram ampla cobertura... Cerca de dois milhões de jovens foram ver o Papa, rezar com o Papa, com o Papa professar sua fé em Cristo, único Salvador do mundo, única esperança da humanidade. Sobre isto, os meios de comunicação quase não falaram ou falaram com superficialidade aviltante..."
A princípio de conversa, tais "nominativos" referem-se ao histórico de Joseph Ratzinger no nazismo (provavelmente "suavizado" à moda do apóstolo Paulo) e pela já referida inolência acerca dos casos de pedofilia, o que amplia a suspeita de acobertamento por parte da ICAR. Aliás, pra que o Papa precisa de tanta pompa em praça pública? Pra poder se vangloriar de ter superioridade numérica (já que muitos ali foram "financiados", conforme cita o próprio site do evento, há um "Fundo de Solidariedade" para bancar quem não tiver condições de viajar, sendo que a maior parte dormiu em ginásios poliesportivos e casas de conhecidos para poder estar ali, com direito a city tour por Madri), dois milhões de integrantes de juventude católica juntos num lugar só? Que diferença eles fizeram naquela região? E quanto aos órgãos de comunicação, fizeram enfoque justamente pelo sucesso da Marcha, que de certo modo roubou a cena, tanto pelo número (a Polícia de Madri estimou quatro mil pessoas, Polícia essa que precisou ser acionada para que "Sua Santidade" pudesse exercer seu "poder absolutista" aos seus acólitos sem ser perturbado por cidadãos que questionam seu "poder".
Interessante: grita-se o tempo todo que Deus morreu, que Cristo passou, que a Igreja já não é levada a sério... E, no entanto, os fatos desmentem tudo isto a cada viagem do Santo Padre. Os inimigos da religião, da Igreja, de Deus, do Papa, se agastam, fazem caretas... Não! Deus não morreu, a religião não será nunca obsoleta.
Hm, alguém aqui além de mim andou lendo Nietzsche... O Papa realmente precisa viajar para poder afirmar que não está decadente? Aliás, antigamente, nas viagens papais, não tinha "Marcha pelo Estado Laico" para questioná-lo. E pelo visto, o bispo não leu Voltaire para saber sobre a importância da religião na sociedade.
Ainda que vinte jovens estivessem esperando o Papa, Deus está vivo e o coração humano não sossegará nunca enquanto nele não descansar!
Okay, como se ele viajasse com sua comitiva, equipe de apoio, pompa e honrarias dignas de chefe de Estado superstar para vir a apenas vinte pessoas! Quem assistiu A Natureza da Existência sabe que o Papa cobra por audiência. Quem pode, pode.
O ateísmo é artificial: tem que ser incutido o tempo todo, explicado teoricamente, incutido praticamente com mil dispersões e superficialidades... A fé, não: é o estado normal e natural do ser humano, feito para o infinito. Tudo que o ateísmo pode fazer é criar uma pseudofé, uma maldita e ridícula religião secular, caricatura de Deus e da experiência religiosa, que humilha o homem e frustra sua sede mais profunda e a razão maior de sua dignidade: diviniza-se o consumo, o prazer, o próprio eu, o poder... Afinal, que é o homem? O que o define em última análise? O pensar? O ser livre? Não! Ainda não! Sua maior peculiaridade é a capacidade de acolher o Infinito, de tender para ele, de dele ter sede!
Como agnóstico, não vou me ater a fazer críticas ao ateísmo (prefiro guardar qualquer crítica para alguns futuros "Apologética Agnóstica"'s). Por um lado, eu considero que o ateísmo também seja uma fé (não exatamente maldita, ridícula e caricata, a menos que o ateísmo citado seja o neo-ateísmo de Richard Dawkins, aí sim), mas considerar como qualidade mais importante do homo sapiens sapiens um eufemismo para "tendência à religiosidade", além de contundente, gera discussão até mesmo dentro da ICAR.
O que é o homem? O ser, bicho que não se contenta com nada menor que o infinito, com nada menos que o infinito! Eis o homem: o ser capaz de Deus, saudoso da comunhão com ele!
Quanto à primeira e segunda frases, concluo que o ser humano é extremamente ganancioso (e espero não confirmar um dia minha suspeita que a religiosidade seja um modo de satisfazer essa "ganância"). Quanto à terceira frase, receio que o ateísmo (e talvez todos os outros "não-teísmos") sejam o bitch please da questão.
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